terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A casa do dr. Von Heckel vai virar museu


Nicolau Klinger não gostava de usar os pincéis, mas era um dos melhores pintores da colônia teutônica que se estabeleceu no Vale do Taquari no inicio do século 20. Por volta de 1920, com os dedos e um pedaço de pano, traçou um de seus quadros mais bonitos. A tela mostrava um campo verde com pássaros, árvores e um lago. Seu comprador foi um alemão recém chegado da Argentina, que se alojara em Arroio do Meio, então distrito de Lajeado. Seu nome: Ernesto Von Heckel. Von Heckel era médico e instalou a tela na varanda do prédio recém concluído que usava como casa e consultório. Seus pacientes puderam admirar a obra por anos, provavelmente até que sua viúva, Frida, vendeu a propriedade. Agora, mais de 90 anos depois, as paredes da casa do dr. Von Heckel voltarão a abrigar obras de arte.

A propriedade, na época quase um sítio, com 2,2 mil metros quadrados, hoje é avizinhada de prédios. A rua que passa em frente a sua fachada, antes de chão batido, agora é asfaltada. Os coqueiros que se destacavam na paisagem também foram desmatados. Mas o charme da construção tipo colonial e as grandes e esmeradas janelas ainda estão lá. A casa do dr. Von Heckel agora faz parte da história de Arroio do Meio. Foi tombada como patrimônio municipal em 2002 e hoje se chama Casa de Cultura de Arroio do Meio. Na quarta-feira da semana passada, a Câmara de Vereadores aprovou o projeto que autoriza a reforma do prédio. A expectatica é que até novembro esteja funcionando um museu para guardar a história do município no local.

A idéia já havia sido defendida por entusiastas da trajetória de Arroio do Meio em outros anos. Em 2007, um grupo formado por Paulo Steiner, Érico Essig, Milton Schmidt e Paulo Alécio Weizemann chegou a se reunir com membros do núcleo de cultura para defender o resgate da história do município. A possibilidade do projeto sair do papel veio com a locação da antiga sede do Colégio Cenecista, para onde será transferida a secretaria de Educação, que hoje funciona na Casa de Cultura. Segundo a titular da secretaria, Lourder Rizzi, várias famílias já manifestaram interesse em doar material. O acervo do museu também deve contar com peças doadas pela empresa de bebidas Fruki, que iniciou suas atividades na região do bairro Bela Vista, em 1924. A intenção é usar a estrutura do prédio para ambientar aposentos usando peças antigas. Um estudo mais avançado sobre o formato do museu ainda deve ser realizado pela secretaria de Educação. “Queremos que o local seja o mais dinâmico possivel para as pessoas que o visitarem” adianta a secretaria Lourdes.

A reforma do prédio irá custar R$ 110 mil à Administração. Um dos responsáveis pelo projeto, o arquiteto da secretaria de Planejamento, Pedro Luiz da Silva, diz que as melhorias vão tentar manter o prédio o mais próximo possível do original. A empresa que vencer a licitação terá que trocar o piso, o assoalho e o forro da construção. O telhado e o sotão também terá de sofrerão modificações. Como a maioria das esquadrias da casa ainda são originais, nelas serão trocadas apenas as partes danificadas por cupins. O prédio deve receber nova pintura, mas ainda não foram definidas as cores.
Também está incluído no projeto da reforma a construção de um rampa para facilitar a visitação de deficientes. A rampa dará acesso ao museu pela rua Monsenhor Jacob Sager. Quem utiliza-la irá diretamente para a parte superior do Centro Cultural. Futuramente, ainda segundo Silva, devem ser realizadas mudanças no estacionamento e no porão do prédio, onde estão instaladas salas usadas pela secretaria de Saúde e pelos motoristas que trabalham com transporte escolar. “É muito importante o que estamos fazendo ao valorizar um dos prédios mais antigos do município”, diz o arquiteto.


Da Bavária à história de Arroio do Meio

Quando veio da Bavária para a América do Sul para dedicar-se à caça e a pesca – hobbys pelos quais foi apaixonado até sua morte – Ernesto Von Heckel certamente não imaginava que iria parar no interior do Rio Grande do Sul. Para contar a história desse aventureiro que foi o primeiro médico a aportar em Arroio do Meio, O Alto Taquari localizou um dos três únicos netos vivos de Von Heckel. Eduardo Von Heckel Schardong, funcionário aposentado da Assembléia Legislativa, tem 71 anos e mora em Porto Alegre. Ele é filho de Dora Von Heck Schardong, filha de Ernesto falecida no ano passado, aos 98 anos. As fotos antigas e muitas das informações contidas nessas páginas, fornecidas por Eduardo, nunca haviam sido expostas.

O germânico Ernesto nasceu em 15 de agosto de 1879. Mudou-se para a província argentina de Entre-Rios no começo do século 20. Logo voltou à Alemanha afim de buscar aquela que viria a ser sua mulher, Frida. Novamente vivendo em Entre-Rios, o casal teve seus três filhos, Estela, Herberto e Dora.

Depois de desentendimentos relacionados à política, o medico alemão resolveu buscar outro local para viver. Ficou sabendo da colônia teutônica no Vale do Taquari e resolveu mudar-se com a família. Assim que o vapor ancorou no porto do Rio Taquari, os moradores de Arroio do Meio recepcionaram Von Heckel com festa. Compreensível. Não havia médicos no povoado e, de súbito, um aparecera. Melhor: falando alemão fluentemente.

Na época, Dora tinha 10 anos. Ela e os irmãos gostavam de brincar na horta localizada junto a propriedade da família. De acordo com seus relatos ao filho, Eduardo, a casa foi construida no mesmo ano em que a família veio ao Rio Grande do Sul, 1918. “Minha mãe lembrava com muito carinho de Arroio do Meio. Contava histórias de meu avô e das aventuras que ele passava para atender os pacientes que moravam longe da sede”, recorda-se Eduardo, feliz por saber que a casa de seu avô vai virar museu.

Ernesto faleceu aos 50 anos, molestado pelo reumatismo. Sua viúva, Frida, continuou morando em Arroio do Meio e ficou conhecida por seu virtuosismo no piano. A casa construída pela família só seria vendia em 1941, para outra figura importante na história de Arroio do Meio, Edgar Jung. O empresário organizou a sociedade que compraria o frigorífico Ardomé e foi um dos fundadores do Curtume Aimoré. Vivem no imóvel de 1941 a 1952. Foi nesse ano que a propriedade foi adquirida pela primeira vez pelo governo municipal. A prefeitura foi estabelecida em suas dependências até 1974, quando foi inaugurado o prédio onde funciona atualmente.

Em 1979, a casa foi vendida a Lauro Froner, que alugou-a como ponto comercial. Serviu de sede para uma eletrônica e uma estofaria até 1992, quando a prefeitura reconheceu o valor histórico do imóvel e o desapropriou. De 1993 a 1997, o prédio foi palco para diversos cursos e exposições culturais. Em 1998, instalou-se lá Biblioteca Pública, depois transferida para o prédio da antiga escola São Paulo - e que também deve ser instalada no prédio do CNEC nos próximos meses.

A história da Casa de Cultura, por si só, já é bastante rica. Agora além das lembraças de um consultório, uma prefeitura e uma biblioteca, suas paredes vão guardar a história de toda a cidade.

2 comentários:

Laura Peixoto disse...

Q maximo esse teu blog! Super! Tô curtindo! Muito histórico!
Abç

Anônimo disse...

Thanks :)
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